Carolena Nericcio
Criadora do estilo ATS® - American Tribal Style e diretora do grupo FCBD® (FatChanceBellyDance)
Criadora do estilo ATS® - American Tribal Style e diretora do grupo FCBD® (FatChanceBellyDance)
Entrevistadora: Rebeca Piñeiro
Tradução : Aline Muhana
Entrevista feita para Revista Shimmie Ampliando Conceitos
1) RP: Carolena, quais foram suas inspirações para estruturar o ATS®?
CN: Eu descreveria da seguinte forma: Quando comecei a dar aulas de dança do ventre era apenas isso, aulas de dança do ventre. Eu usava o formato que aprendi de minha professora Masha Archer que eu conhecia apenas como dança do ventre. Ela é uma artista muito talentosa e a forma como ela utilizava o figurino e a estética geral do seu estilo era muito especifica e eu achava que dança do ventre era isso.
Então quando comecei a dar aulas eu não tinha experiência com outros estilos e foi muito natural seguir o formato que ela me ensinou então quando as pessoas começaram a mencionar outros estilos de dança do ventre eu não sabia do que elas estavam falando e também não me importava muito. Me interessei bastante depois mas não naquele primeiro momento. E eu vivia nessa “bolha” de conhecimento passado por mim por Masha, porque eu achava que o estilo dela era a coisa mais incrível do mundo e era assim que eu gostava de ver as coisas. Mas as pessoas continuavam a trazer mais perguntas à respeito de outros movimentos, outras culturas de outros países e outras formas de dança e aquilo me forçou a sair daquela “bolha” e conhecer outras coisas. E o que eu comecei a perceber foi que em termos de estrutura, o que nos tentávamos fazer era um estilo de improvisação coordenada em que duas, três ou quatro dançarinas se apresentavam juntas e o real propósito disso.
Como mencionei anteriormente , no estilo de apresentação improvisado de Masha, a bailarina mais experiente poderia mudar o movimento o movimento do grupo mas ela não necessariamente tinha que estar na frente das outras para fazê-lo, era esperado que você soubesse que iria acontecer e era extremamente confuso. E eu tenho essa forma organizada de pensar as coisas e aquilo não fazia nenhum sentido para mim (minhas alunas nunca aceitariam tal coisa!) então tivemos que pensar em melhorar isso. A dançarina mais experiente tinha que ficar na frente das outras para passar a informação para as outras. O que fiz foi observar as alunas em sala de aula e pode notar quando a dançarina sênior mudaria o movimento, por causa da forma que ela mudava de um movimento para o outro. Muito similar à estrutura da música folclórica egípcia, em que o percussionista usa a medida de 4/4 do ritmo para mudar de frase musical, à partir de uma deixa da última repetição da frase percussiva para avisar aos outros músicos que a frase mudaria. Eu notei que a dançaria sênior fazia o mesmo e dava uma “deixa” que significava: “vou fazer algo diferente” e trazia a atenção para alguma parte do seu corpo que sinalizaria a mudança. Poderia ser no ângulo dos seus pés ou a forma que movimentavam os braços para cima e/ou para baixo, ou a forma que movimentavam os ombro sinalizado “estou me preparando para girar” e coisas do gênero. Então foram nessas observações em que me baseei para estruturar o estilo, a experiência de improvisação com duas, três ou quatro dançarinas. Qualquer formação com mais pessoas era confuso demais, e com menos pessoas do que isso, seria um solo. Às vezes temos solos mas a maioria das apresentações são em grupos. Originalmente nós dançávamos apenas em festas então a formação não tinha muito critério de posicionamento, então começamos a nos apresentar em um pequeno café chamado “Café Istambul” em que os espaço para dança era bastante estreito e as dançarinas só podiam ficar em uma posição específica, que era em diagonal , que era possível para duetos e trios. Essa situação nos levou a trabalhar em diagonais. E então nos vimos em apresentações em parques e festivais e nos demos conta que a formação em triângulo para os trios e em linhas intercaladas para os quartetos era uma boa forma de manter as diagonais e ainda sim ver a dançarina-líder. Então foi isso (uma longa resposta para sua pergunta curta), eu apenas observava o que estava acontecendo. E em termos de figurino : os adornos de cabeça, as jóias, o choli, as calças bufantes, a saia, o xale , eram bem o que usávamos com Masha. Para ela as cores seriam mais pastéis, mais européias , como uma pintura de Alfonse Mucha , e para mim as cores seriam mais cruas e ousadas, com um visual mais folclórico e alegre. Eu adicionei meu toque pessoal e a minha inspiração porém mantendo a estrutura básica do figurino, com mudanças das texturas dos tecidos e nas cores, passando dos pastéis e dos tons lavados para algo mais arrojado, natural e vigoroso.
CN: Eu descreveria da seguinte forma: Quando comecei a dar aulas de dança do ventre era apenas isso, aulas de dança do ventre. Eu usava o formato que aprendi de minha professora Masha Archer que eu conhecia apenas como dança do ventre. Ela é uma artista muito talentosa e a forma como ela utilizava o figurino e a estética geral do seu estilo era muito especifica e eu achava que dança do ventre era isso.
Então quando comecei a dar aulas eu não tinha experiência com outros estilos e foi muito natural seguir o formato que ela me ensinou então quando as pessoas começaram a mencionar outros estilos de dança do ventre eu não sabia do que elas estavam falando e também não me importava muito. Me interessei bastante depois mas não naquele primeiro momento. E eu vivia nessa “bolha” de conhecimento passado por mim por Masha, porque eu achava que o estilo dela era a coisa mais incrível do mundo e era assim que eu gostava de ver as coisas. Mas as pessoas continuavam a trazer mais perguntas à respeito de outros movimentos, outras culturas de outros países e outras formas de dança e aquilo me forçou a sair daquela “bolha” e conhecer outras coisas. E o que eu comecei a perceber foi que em termos de estrutura, o que nos tentávamos fazer era um estilo de improvisação coordenada em que duas, três ou quatro dançarinas se apresentavam juntas e o real propósito disso.
Como mencionei anteriormente , no estilo de apresentação improvisado de Masha, a bailarina mais experiente poderia mudar o movimento o movimento do grupo mas ela não necessariamente tinha que estar na frente das outras para fazê-lo, era esperado que você soubesse que iria acontecer e era extremamente confuso. E eu tenho essa forma organizada de pensar as coisas e aquilo não fazia nenhum sentido para mim (minhas alunas nunca aceitariam tal coisa!) então tivemos que pensar em melhorar isso. A dançarina mais experiente tinha que ficar na frente das outras para passar a informação para as outras. O que fiz foi observar as alunas em sala de aula e pode notar quando a dançarina sênior mudaria o movimento, por causa da forma que ela mudava de um movimento para o outro. Muito similar à estrutura da música folclórica egípcia, em que o percussionista usa a medida de 4/4 do ritmo para mudar de frase musical, à partir de uma deixa da última repetição da frase percussiva para avisar aos outros músicos que a frase mudaria. Eu notei que a dançaria sênior fazia o mesmo e dava uma “deixa” que significava: “vou fazer algo diferente” e trazia a atenção para alguma parte do seu corpo que sinalizaria a mudança. Poderia ser no ângulo dos seus pés ou a forma que movimentavam os braços para cima e/ou para baixo, ou a forma que movimentavam os ombro sinalizado “estou me preparando para girar” e coisas do gênero. Então foram nessas observações em que me baseei para estruturar o estilo, a experiência de improvisação com duas, três ou quatro dançarinas. Qualquer formação com mais pessoas era confuso demais, e com menos pessoas do que isso, seria um solo. Às vezes temos solos mas a maioria das apresentações são em grupos. Originalmente nós dançávamos apenas em festas então a formação não tinha muito critério de posicionamento, então começamos a nos apresentar em um pequeno café chamado “Café Istambul” em que os espaço para dança era bastante estreito e as dançarinas só podiam ficar em uma posição específica, que era em diagonal , que era possível para duetos e trios. Essa situação nos levou a trabalhar em diagonais. E então nos vimos em apresentações em parques e festivais e nos demos conta que a formação em triângulo para os trios e em linhas intercaladas para os quartetos era uma boa forma de manter as diagonais e ainda sim ver a dançarina-líder. Então foi isso (uma longa resposta para sua pergunta curta), eu apenas observava o que estava acontecendo. E em termos de figurino : os adornos de cabeça, as jóias, o choli, as calças bufantes, a saia, o xale , eram bem o que usávamos com Masha. Para ela as cores seriam mais pastéis, mais européias , como uma pintura de Alfonse Mucha , e para mim as cores seriam mais cruas e ousadas, com um visual mais folclórico e alegre. Eu adicionei meu toque pessoal e a minha inspiração porém mantendo a estrutura básica do figurino, com mudanças das texturas dos tecidos e nas cores, passando dos pastéis e dos tons lavados para algo mais arrojado, natural e vigoroso.
2) RP: Após 25 anos de FCBD®, você sente que ainda precisa procurar novas inspirações para a evolução do estilo ou consideraria seu trabalho encerrado?
CN: Encerrado seria um pouco extremo, eu diria terminado. Quando lançamos o DVD 7, na ocasião do aniversário de 20 anos do estilo eu considerei que a minha criação estava completa e fiquei bastante satisfeita. Mas alguns Sister Studios vieram com algumas variações para alguns passos , o que eu achei frustrante por não ver propósito nisto, e até nós mesmas no FCBD surgimos com variações também , então tive que admitir que o estilo continuava a crescer. Num primeiro momento me senti frustrada, como já mencionei, porque só de pensar no trabalho que isso tudo daria já me senti exausta. Percebi que seria inevitável, com a evolução do estilo haveria que se assegurar a liberdade de criação, então eu me rendi à idéia de reunir 3 Sister Studios mais o FCBD® e criamos o volume 9 com um manual para a criação de novos passos se assim for do desejo de quem dança ( e este seria tema para uma outra entrevista completa). Então eu não diria que o conceito está encerrado, eu diria que está completo e diria ainda que continua a se desenvolver, respeitando seu formato original.
CN: Encerrado seria um pouco extremo, eu diria terminado. Quando lançamos o DVD 7, na ocasião do aniversário de 20 anos do estilo eu considerei que a minha criação estava completa e fiquei bastante satisfeita. Mas alguns Sister Studios vieram com algumas variações para alguns passos , o que eu achei frustrante por não ver propósito nisto, e até nós mesmas no FCBD surgimos com variações também , então tive que admitir que o estilo continuava a crescer. Num primeiro momento me senti frustrada, como já mencionei, porque só de pensar no trabalho que isso tudo daria já me senti exausta. Percebi que seria inevitável, com a evolução do estilo haveria que se assegurar a liberdade de criação, então eu me rendi à idéia de reunir 3 Sister Studios mais o FCBD® e criamos o volume 9 com um manual para a criação de novos passos se assim for do desejo de quem dança ( e este seria tema para uma outra entrevista completa). Então eu não diria que o conceito está encerrado, eu diria que está completo e diria ainda que continua a se desenvolver, respeitando seu formato original.
3) RP: Porque você começou a dançar em grupo?
CN: É uma boa pergunta! Como disse antes, na época em que dancei com Masha Archer haviam solos ocasionalmente, mas ela gostava mais da idéia de dançarinas trabalhando juntas. Em vez da idéia de competição entre dançarinas, coisa ela observou tantas vezes até que ela começasse a dar aulas, que mesmo em grupo tentavam aparecer mais que a outras competindo entre si e tentando provar qual delas era a melhor. Ela achava essa atitude sem sentido porque quando estamos no campo da Arte não existe este sentido de competição, então ela passava para nós uma mentalidade de cooperação quando dançávamos juntas. Então eu interpretei isso como a forma que deveria ser. E o que pude perceber da minha experiência inicial lecionando foi que os solos criavam mesmo esta sensação de “quem é a melhor”, coisa que eu não gostava. É como quando você vê uma dançarina cercada por outras e automaticamente você pensa que ela está se destacando porque ela é a melhor do grupo, e não porque ela teria a leitura musical mais interessante para esse pedaço da musica por exemplo. Com o passar do tempo mantivemos o solo, mas ele não faz parte da natureza do estilo como quero apresentá-lo. Então nos grupos de duetos, trios e quartetos a audiência tende a ficar desconectada das particularidades de cada dançarina (a mais bonita, a mais alta, a mais voluptuosa ou a mais magra... a que tem cabelo roxo... enfim!) e se concentra no todo, como uma verdadeira pintura em movimento. A primeira coisa que se vê é a totalidade desta “pintura”, e então você nota qual é o tema, e pequenas partes desse todo começam a se destacar. Eu não queria que estas “pequenas partes” se destacassem antes do tema principal, e a atenção não se perde deste tema. E isso agradou a muitas pessoas porque se você quer dançar mas não quer ser uma solista, você não precisa. Não é necessário lidar com toda aquela pressão de ser o centro das atenções , eu mesma nunca quis ser uma solista. Muitas alunas que freqüentavam as minhas aulas se sentiam desta maneira e isso fez com que elas se sentissem confortáveis e isso ajudou muito. À medida que o ATS® foi ficando mais popular senti muita pressão por parte das pessoas para fazer solos, por que eles queriam me ver dançando sozinha e eu pensei “mas isso vai contra o propósito da coisa”, mas acabei cedendo porque vi o porquê delas quererem tanto. Então apresento solos ocasionalmente mas não gosto deles tanto quando gosto de dançar em grupo.
CN: É uma boa pergunta! Como disse antes, na época em que dancei com Masha Archer haviam solos ocasionalmente, mas ela gostava mais da idéia de dançarinas trabalhando juntas. Em vez da idéia de competição entre dançarinas, coisa ela observou tantas vezes até que ela começasse a dar aulas, que mesmo em grupo tentavam aparecer mais que a outras competindo entre si e tentando provar qual delas era a melhor. Ela achava essa atitude sem sentido porque quando estamos no campo da Arte não existe este sentido de competição, então ela passava para nós uma mentalidade de cooperação quando dançávamos juntas. Então eu interpretei isso como a forma que deveria ser. E o que pude perceber da minha experiência inicial lecionando foi que os solos criavam mesmo esta sensação de “quem é a melhor”, coisa que eu não gostava. É como quando você vê uma dançarina cercada por outras e automaticamente você pensa que ela está se destacando porque ela é a melhor do grupo, e não porque ela teria a leitura musical mais interessante para esse pedaço da musica por exemplo. Com o passar do tempo mantivemos o solo, mas ele não faz parte da natureza do estilo como quero apresentá-lo. Então nos grupos de duetos, trios e quartetos a audiência tende a ficar desconectada das particularidades de cada dançarina (a mais bonita, a mais alta, a mais voluptuosa ou a mais magra... a que tem cabelo roxo... enfim!) e se concentra no todo, como uma verdadeira pintura em movimento. A primeira coisa que se vê é a totalidade desta “pintura”, e então você nota qual é o tema, e pequenas partes desse todo começam a se destacar. Eu não queria que estas “pequenas partes” se destacassem antes do tema principal, e a atenção não se perde deste tema. E isso agradou a muitas pessoas porque se você quer dançar mas não quer ser uma solista, você não precisa. Não é necessário lidar com toda aquela pressão de ser o centro das atenções , eu mesma nunca quis ser uma solista. Muitas alunas que freqüentavam as minhas aulas se sentiam desta maneira e isso fez com que elas se sentissem confortáveis e isso ajudou muito. À medida que o ATS® foi ficando mais popular senti muita pressão por parte das pessoas para fazer solos, por que eles queriam me ver dançando sozinha e eu pensei “mas isso vai contra o propósito da coisa”, mas acabei cedendo porque vi o porquê delas quererem tanto. Então apresento solos ocasionalmente mas não gosto deles tanto quando gosto de dançar em grupo.
4) RP: Como criadora do ATS® como você se sente a respeito da projeção mundial que o estilo vem tomando em todo o mundo? Você algum dia imaginou que o estilo se tornaria tão popular?
CN: Eu tenho três respostas para esta pergunta. Eu esperava que o estilo se tornaria tão popular? Não. Foi minha intenção que ele se tornasse tão popular? Não. O porquê de ter se tornado tão popular faz sentido para mim? Sim. Porque é belo, é de uma beleza universal, é acessível, e eu penso “é claro que todos querem fazê-lo”. Eu quis que se tornasse o propósito da minha vida então porque outras pessoas não iriam querem também? Foi sem intenção, sem promovê-lo dessa forma que faz com que faça total sentido. O que mais se poderia querer?
CN: Eu tenho três respostas para esta pergunta. Eu esperava que o estilo se tornaria tão popular? Não. Foi minha intenção que ele se tornasse tão popular? Não. O porquê de ter se tornado tão popular faz sentido para mim? Sim. Porque é belo, é de uma beleza universal, é acessível, e eu penso “é claro que todos querem fazê-lo”. Eu quis que se tornasse o propósito da minha vida então porque outras pessoas não iriam querem também? Foi sem intenção, sem promovê-lo dessa forma que faz com que faça total sentido. O que mais se poderia querer?
5) RP: Quais são seus próximos objetivos? No que você gostaria que o a ATS® se transformasse no futuro?
CN: Como disse antes, sinto que o meu objetivo foi atingido e o fundamento está completo e cabe a ele uma evolução , então eu acho que o conceito continuará a se expandir , crescer e se tornar sustentável e saudável. O que eu realmente gostaria de ver seria o ATS® mais presente na mídia. Eu gostaria de ver a dança do ventre sendo apresentada de uma forma mais séria, e não apenas como um hobby ou uma dança sexy. Seria muito bom se a mídia desse uma chance de retratar a dança como uma forma de arte de grande beleza, independente do que as pessoas consideram como um estilo formal de dança , independente da opinião pessoal de algumas pessoas do que é beleza feminina. Se apenas eles pudessem ver através dessas coisas pequenas o verdadeiro valor da dança eu me daria por satisfeita.
CN: Como disse antes, sinto que o meu objetivo foi atingido e o fundamento está completo e cabe a ele uma evolução , então eu acho que o conceito continuará a se expandir , crescer e se tornar sustentável e saudável. O que eu realmente gostaria de ver seria o ATS® mais presente na mídia. Eu gostaria de ver a dança do ventre sendo apresentada de uma forma mais séria, e não apenas como um hobby ou uma dança sexy. Seria muito bom se a mídia desse uma chance de retratar a dança como uma forma de arte de grande beleza, independente do que as pessoas consideram como um estilo formal de dança , independente da opinião pessoal de algumas pessoas do que é beleza feminina. Se apenas eles pudessem ver através dessas coisas pequenas o verdadeiro valor da dança eu me daria por satisfeita.
6) RP: Qual a sua opinião sobre a importância do estudo teórico para a dança? Fale sobre.
CN: É de extrema importância o conhecimento sobre as raízes das coisas. Acho que as pessoas passam tempo demais em páginas da internet e não dançam o suficiente. O que pude descobrir à partir da minha experiência pessoal e que posso recomendar para os outros: tenha em mente de forma clara a diferença entre o que são informações históricas e factuais do que é arte. Então, se você está interessada em reproduzir fielmente “a dança dos Beduínos das montanhas Atlas do Marrocos” estude intensamente e faça-o. Mas se você está interessada em criar algo interessante para performance então faça-o, use as influências históricas, modifique se for preciso. Minha opinião é que as pessoas às vezes tentam com muita veemência ser original e ser historicamente fiéis, mas eu não acho que isso seja possível. Acho que se pode ser um ou outro , mas isso não quer dizer que eu não possa usar influências de um ou de outro, mas se você está reproduzindo algo que já existe e está dizendo que é algo totalmente novo é aí que o problema se estabelece. As pessoas têm muito medo de se assumir artisticamente então elas copiam algo e fazem pequenas mudanças, mas não de uma forma eficiente para que se torne algo diferente e então temos eventos de dança do ventre cheios de idéias mal desenvolvidas por que as pessoas simplesmente não tem talento nem coragem de assumir riscos. Simplificando, acho que o estudo é muito importante, pesquisa cultural é muito importante, mas ou se tem uma reprodução fiel do que se quer representar com os estudos ou use aquela influência e faça algo que tenha a sua assinatura. Porque é isso que eu venho testemunhando desde o início da minha carreira, as pessoas pensavam que o que eu estava fazendo com o ATS® no início era mais autêntico do que a dança do ventre (dança do ventre estilo oriental, ou cabaret como os americanos chamam) e não é. A Dança do ventre sempre foi mais autêntica no sentido histórico que o ATS®, e só porque “parecíamos” mais folclóricos as pessoas assumiram que nós éramos a verdadeira dança, e isso nos causou problemas imensos com a comunidade da dança do ventre. E isso me forçou a tomar uma decisão definitiva sobre esse assunto, o que me rendeu liberdade para perseguir os meus interesses artísticos e estéticos. É claro que existem ligações entre o meu trabalho e os aspectos tradicionais das culturas que pesquisei, mas eu não tento retratar nenhuma tribo em específico. Eu respeito todas as influências às quais me inspiro a ponto de não tentar reproduzir essas influências sem o conhecimento necessário. Por que se eu fosse perseguir o conhecimento de centenas de formas de dança então nunca faria o que eu faço, porque seria completamente consumida por essa pesquisa. Então pode ser muito libertador se você cortar o cordão, e também pode ser bastante intimidador se você procura fazer algo novo, mas é necessário seguir a sua inspiração. Na arte não existe “certo ou errado”, existe a coragem de se fazer o que se deseja, e se as pessoas gostarem, ok. Se elas não gostarem não pense que não está “correto” apenas continue tentando, siga a sua inspiração.
CN: É de extrema importância o conhecimento sobre as raízes das coisas. Acho que as pessoas passam tempo demais em páginas da internet e não dançam o suficiente. O que pude descobrir à partir da minha experiência pessoal e que posso recomendar para os outros: tenha em mente de forma clara a diferença entre o que são informações históricas e factuais do que é arte. Então, se você está interessada em reproduzir fielmente “a dança dos Beduínos das montanhas Atlas do Marrocos” estude intensamente e faça-o. Mas se você está interessada em criar algo interessante para performance então faça-o, use as influências históricas, modifique se for preciso. Minha opinião é que as pessoas às vezes tentam com muita veemência ser original e ser historicamente fiéis, mas eu não acho que isso seja possível. Acho que se pode ser um ou outro , mas isso não quer dizer que eu não possa usar influências de um ou de outro, mas se você está reproduzindo algo que já existe e está dizendo que é algo totalmente novo é aí que o problema se estabelece. As pessoas têm muito medo de se assumir artisticamente então elas copiam algo e fazem pequenas mudanças, mas não de uma forma eficiente para que se torne algo diferente e então temos eventos de dança do ventre cheios de idéias mal desenvolvidas por que as pessoas simplesmente não tem talento nem coragem de assumir riscos. Simplificando, acho que o estudo é muito importante, pesquisa cultural é muito importante, mas ou se tem uma reprodução fiel do que se quer representar com os estudos ou use aquela influência e faça algo que tenha a sua assinatura. Porque é isso que eu venho testemunhando desde o início da minha carreira, as pessoas pensavam que o que eu estava fazendo com o ATS® no início era mais autêntico do que a dança do ventre (dança do ventre estilo oriental, ou cabaret como os americanos chamam) e não é. A Dança do ventre sempre foi mais autêntica no sentido histórico que o ATS®, e só porque “parecíamos” mais folclóricos as pessoas assumiram que nós éramos a verdadeira dança, e isso nos causou problemas imensos com a comunidade da dança do ventre. E isso me forçou a tomar uma decisão definitiva sobre esse assunto, o que me rendeu liberdade para perseguir os meus interesses artísticos e estéticos. É claro que existem ligações entre o meu trabalho e os aspectos tradicionais das culturas que pesquisei, mas eu não tento retratar nenhuma tribo em específico. Eu respeito todas as influências às quais me inspiro a ponto de não tentar reproduzir essas influências sem o conhecimento necessário. Por que se eu fosse perseguir o conhecimento de centenas de formas de dança então nunca faria o que eu faço, porque seria completamente consumida por essa pesquisa. Então pode ser muito libertador se você cortar o cordão, e também pode ser bastante intimidador se você procura fazer algo novo, mas é necessário seguir a sua inspiração. Na arte não existe “certo ou errado”, existe a coragem de se fazer o que se deseja, e se as pessoas gostarem, ok. Se elas não gostarem não pense que não está “correto” apenas continue tentando, siga a sua inspiração.
7) RP: Sabemos que o ATS® originou o Tribal Fusion. Como você se sentiu quando as primeiras modificações do seu estilo aconteceram?
CN: Posso dizer que as primeiras modificações do ATS® não foram fusões, não foram Tribal Fusion. As primeiras modificações vieram de pessoas que freqüentaram as minhas aulas e decidiram que elas mesmas gostariam de lecionar, ou se mudaram , ou estiveram na companhia de dança e decidiram criar o seu próprio grupo em outro lugar...foi inevitável e lamentável porque o meu trabalho ainda não estava completo, as pessoas pegaram informações pela metade. E quando foram usar o que tinham aprendido tiveram que completar o conhecimento com outras coisas. Então tivemos todas estas variações do ATS® ou da dança tribal.
Minha primeira reação foi ficar de coração partido. Foi uma grande confusão, fiquei chocada. Então fiquei desapontada e magoada porque senti que essas pessoas me roubaram de alguma forma e eu não podia acreditar nisso, eu nunca faria tal coisa com a minha professora. Eu não comecei a dar aulas enquanto ela não se aposentou. Jamais eu daria aula com ela em atividade. Nunca me ocorreu, e se tivesse eu trataria de tirar esse pensamento da minha cabeça. Então, foi assim: as pessoas abrindo aulas na minha esquina e dizendo que o que elas faziam era a mesma coisa que eu, ou chamando por outro nome e oferecendo o mesmo que eu. Era exatamente o que eu disse sobre danças folclórica e expressão artística. Se você vai utilizar a idéia de outra pessoa e modificá-la, faça grandes modificações. Não faça “mudançazinhas” e diga que é completamente novo, porque não é. À princípio eu quis criticar essas pessoas mas me dei conta que se eu fizesse isso a dança nunca cresceria, então eu simplesmente parei de me importar. E foi a minha salvação, saber quando não se importar. Por uns bons anos eu não prestei atenção às coisas novas que as pessoas estavam inventando até que o Tribal Fusion apareceu e eu pensei “O que será isso? O que isso tem a ver com o que eu faço? Por que estão chamando isso de Tribal?” E por um bom tempo o tribal de tornou “a lata de lixo” para aqueles que queriam fazer algo diferente e não tinham coragem de de se opor à dança oriental e dizer “eu quero modificar o seu estilo”. Mas como o tribal era algo experimental e se originou da dança oriental era ok modificar o quanto se quisesse. O termo “tribal” tomou uma conotação totalmente errada e não foi, até que Rachel Brice aparecesse e finalmente houve um entendimento maior e a coisa toda passasse a fazer mais sentido para mim. Ela é uma pessoa muito talentosa e inteligente e disse para mim “eu quero fazer tal coisa que se parecesse dessa forma, do que devo chamá-la?” e eu respondi “eu não sei” então acho que dissemos juntas “então vamos chamá-lo de Tribal Fusion”. E fiquei muito satisfeita por termos tido esta conversa, ela me pediu a minha opinião e realmente criou algo que vem do ATS® mas é completamente diferente. É como se você pudesse olhar para nós e ver as semelhanças, apesar das diferenças, fizemos um ensaio fotográfico em que trocávamos de figurino e era essa a sensação. E é muito obvio que existem elementos do ATS® no que ela faz, mas ela não modificou pouco, modificou muito e agora posso ver que o que ela faz é distinto, porém vejo muitas pessoas simplesmente “nadando” entre uma coisa e outra sem entender. Elas não têm essa perspectiva das duas partes e acabam tendo muitas informações desencontradas, ou não são talentosas ou habilidosas o suficiente para criar algo próprio. Então se copia sem se entender, o que desorganiza o cenário todo.
CN: Posso dizer que as primeiras modificações do ATS® não foram fusões, não foram Tribal Fusion. As primeiras modificações vieram de pessoas que freqüentaram as minhas aulas e decidiram que elas mesmas gostariam de lecionar, ou se mudaram , ou estiveram na companhia de dança e decidiram criar o seu próprio grupo em outro lugar...foi inevitável e lamentável porque o meu trabalho ainda não estava completo, as pessoas pegaram informações pela metade. E quando foram usar o que tinham aprendido tiveram que completar o conhecimento com outras coisas. Então tivemos todas estas variações do ATS® ou da dança tribal.
Minha primeira reação foi ficar de coração partido. Foi uma grande confusão, fiquei chocada. Então fiquei desapontada e magoada porque senti que essas pessoas me roubaram de alguma forma e eu não podia acreditar nisso, eu nunca faria tal coisa com a minha professora. Eu não comecei a dar aulas enquanto ela não se aposentou. Jamais eu daria aula com ela em atividade. Nunca me ocorreu, e se tivesse eu trataria de tirar esse pensamento da minha cabeça. Então, foi assim: as pessoas abrindo aulas na minha esquina e dizendo que o que elas faziam era a mesma coisa que eu, ou chamando por outro nome e oferecendo o mesmo que eu. Era exatamente o que eu disse sobre danças folclórica e expressão artística. Se você vai utilizar a idéia de outra pessoa e modificá-la, faça grandes modificações. Não faça “mudançazinhas” e diga que é completamente novo, porque não é. À princípio eu quis criticar essas pessoas mas me dei conta que se eu fizesse isso a dança nunca cresceria, então eu simplesmente parei de me importar. E foi a minha salvação, saber quando não se importar. Por uns bons anos eu não prestei atenção às coisas novas que as pessoas estavam inventando até que o Tribal Fusion apareceu e eu pensei “O que será isso? O que isso tem a ver com o que eu faço? Por que estão chamando isso de Tribal?” E por um bom tempo o tribal de tornou “a lata de lixo” para aqueles que queriam fazer algo diferente e não tinham coragem de de se opor à dança oriental e dizer “eu quero modificar o seu estilo”. Mas como o tribal era algo experimental e se originou da dança oriental era ok modificar o quanto se quisesse. O termo “tribal” tomou uma conotação totalmente errada e não foi, até que Rachel Brice aparecesse e finalmente houve um entendimento maior e a coisa toda passasse a fazer mais sentido para mim. Ela é uma pessoa muito talentosa e inteligente e disse para mim “eu quero fazer tal coisa que se parecesse dessa forma, do que devo chamá-la?” e eu respondi “eu não sei” então acho que dissemos juntas “então vamos chamá-lo de Tribal Fusion”. E fiquei muito satisfeita por termos tido esta conversa, ela me pediu a minha opinião e realmente criou algo que vem do ATS® mas é completamente diferente. É como se você pudesse olhar para nós e ver as semelhanças, apesar das diferenças, fizemos um ensaio fotográfico em que trocávamos de figurino e era essa a sensação. E é muito obvio que existem elementos do ATS® no que ela faz, mas ela não modificou pouco, modificou muito e agora posso ver que o que ela faz é distinto, porém vejo muitas pessoas simplesmente “nadando” entre uma coisa e outra sem entender. Elas não têm essa perspectiva das duas partes e acabam tendo muitas informações desencontradas, ou não são talentosas ou habilidosas o suficiente para criar algo próprio. Então se copia sem se entender, o que desorganiza o cenário todo.
8) RP: Você viajará muito menos em 2013 para escrever o seu livro, conte-nos mais sobre este projeto.
CN: Bom, este projeto é algo que vem sendo cobrado de mim por muito tempo. Ao mesmo tempo em que as pessoas me pediram para desenvolver um estilo de dança, e quiseram modificá-lo e me pediram para viajar o mundo ensinando-o. E então disse “eu posso fazer tudo isso ao mesmo tempo”, e por um tempo achei que poderia escrever um livro enquanto fazia tudo o mais, mas ficou muito claro que eu não poderia. Resolvemos tirar o próximo ano para escrever o livro, apesar de ainda ter alguns poucos compromissos, eu e minha companheira de Tribal Pura, Megga Gavin.
Quero que o livro seja sobre a história do ATS®, mas visto sob a minha ótica e minhas experiências para que as pessoas possam entender um pouco mais sobre de onde veio e como foi o processo, como foi o ambiente em que cresci, e o que eu presenciei. O que me inspirou, quais foram as minhas experiências, as minhas influências e como isso tudo foi fundamental para a concepção do ATS® e do Tribal e para que estes sejam melhor entendidos.
Porque muitas vezes as pessoas acham que o ATS® é muito rígido, e não sinto que seja assim. Acho o sistema flexível e a cada vez que se dança é diferente. E a razão da estruturação e das regras do estilo é para que se possa aproveitá-lo. Então não é como se você estivesse tentando construir algo indefinido sem sucesso , é definido porque precisa ser. E isso vem minha da experiência de tentativa e erro, de deixar ficar o que funciona e abrir mão do que não funciona.
CN: Bom, este projeto é algo que vem sendo cobrado de mim por muito tempo. Ao mesmo tempo em que as pessoas me pediram para desenvolver um estilo de dança, e quiseram modificá-lo e me pediram para viajar o mundo ensinando-o. E então disse “eu posso fazer tudo isso ao mesmo tempo”, e por um tempo achei que poderia escrever um livro enquanto fazia tudo o mais, mas ficou muito claro que eu não poderia. Resolvemos tirar o próximo ano para escrever o livro, apesar de ainda ter alguns poucos compromissos, eu e minha companheira de Tribal Pura, Megga Gavin.
Quero que o livro seja sobre a história do ATS®, mas visto sob a minha ótica e minhas experiências para que as pessoas possam entender um pouco mais sobre de onde veio e como foi o processo, como foi o ambiente em que cresci, e o que eu presenciei. O que me inspirou, quais foram as minhas experiências, as minhas influências e como isso tudo foi fundamental para a concepção do ATS® e do Tribal e para que estes sejam melhor entendidos.
Porque muitas vezes as pessoas acham que o ATS® é muito rígido, e não sinto que seja assim. Acho o sistema flexível e a cada vez que se dança é diferente. E a razão da estruturação e das regras do estilo é para que se possa aproveitá-lo. Então não é como se você estivesse tentando construir algo indefinido sem sucesso , é definido porque precisa ser. E isso vem minha da experiência de tentativa e erro, de deixar ficar o que funciona e abrir mão do que não funciona.
9) RP: Deixe uma mensagem para os nossos leitores da Revista Shimmie.
CN: Eu diria para você terminar de ler a sua edição da Shimmie, coloque de lado e vá fazer uma aula de ATS®! Pare de pensar e vá dançar. Todas as respostas que você precisa estão na dança. Apenas assista a uma aula do inicio ao fim, mantenha sua mente aberta o tempo todo e não traga pré-conceitos, deixe o seu corpo experimentar e a sua mente vai entender no final, a sua mente não será capaz de explicar ao seu corpo, mas ele vai entender sozinho.
CN: Eu diria para você terminar de ler a sua edição da Shimmie, coloque de lado e vá fazer uma aula de ATS®! Pare de pensar e vá dançar. Todas as respostas que você precisa estão na dança. Apenas assista a uma aula do inicio ao fim, mantenha sua mente aberta o tempo todo e não traga pré-conceitos, deixe o seu corpo experimentar e a sua mente vai entender no final, a sua mente não será capaz de explicar ao seu corpo, mas ele vai entender sozinho.
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